Esta é a primeira exposição de Ferreira Gullar em Portugal.
E é emocionante que seja em livraria, nesta livraria – “nave” tripulada de leitores,
carregada de livros que contam a odisseia da vida, na aventura da Terra no espaço.
Todo bom livro conta a história de como um livro leva a outro.
Eliot Weinberger, em seu livro de artista “As Estrelas”, revela que “Uma da alegrias
secretas da vida de escritor está aí, nesse modo inesperado pelo qual um escrito leva a outro.”              
E é assim que, nesta exposição de livros artesanais, o visitante pode acompanhar como colagem de papel leva a uma série de esculturas em metal, e livro-objeto; um caderno para desenhar (primeiro presente de Cláudia Ahimsa para Gullar) retorna caderno de desenhos para ela, e volta livro-objeto de presente (póstumo) para ele; uma fotografia que leva a uma foto-instalação imersiva, que leva a um livro de colagens.


Esta exposição é obra da criativa parceria entre as editoras UQ! e Urucum e o notório casal de poetas das artes.
A Revelação do Avesso
Diz Gullar, autor do Manifesto Neoconcretista,na abertura do livro artesanal: “Estas colagensem relevo, que aqui são mostradas pela primeiravez, nasceram por acaso. Na verdade, há muito tempovenho fazendo colagens. Inicialmente, desenhavagarrafas, bules e cálices, recortava papéis coloridose colava em cima. Um dia, porem, já havia posto osrecortes sobre o desenho para em seguida colá-los,quando meu gato deu um tapa na folha de papele desarrumou os recortes. Colei-os tal como estavam:disso resultou que o desenho era a ordem e os recortescoloridos, a desordem.”
A partir daí, Gullar produziu 60 obras, que foramtranspostas para o aço em suas cores originais. Cadauma destas obras foi feita em apenas 3 exemplares(assim, são duas edições sequenciais de 30 obrascada). O conjunto de colagem em relevo mais livroartesanal vem num importante estojo em madeira em cujacapa está impresso:
Como um barulho 
A manhã 
Se desembrulha
No ar
Foi desta mesma forma, quase “um desembrulho no ar”,que fizeram nascer as colagens em relevo, como contaGullar: “Estava recortando um papel de cor verde,quando de repente o avesso desse papel, que era deoutra cor, se mostrou: colei o recorte assim mesmo,isto é, a forma verde que recortara e mostrando oavesso da cor cinza que se revelara inesperadamente.E assim nasceram as colagens em relevo, que passei afazer em formato maior. Alguns amigos ao virem a minhacasa e depararem com as tais colagens, tomaram-se deentusiasmo (...) alegando que não importava se eu sou ounão artista plástico; importava é que as colagens emrelevo eram bonitas e originais.”
O livroarte é constituído por um livro artesanal e umrelevo em metal, ambos de Ferreira Gullar. O design eprodução do conjunto são de Lucia Bertazzo e LeonelKaz da UQ! Editions.
As muitas maneiras de dizer “eu te amo”
A edição comemorativa traz desenhos de Ferreira Gullare textos de Cláudia Ahimsa.
As muitas maneiras de dizer “eu te amo” parte de umcaderno para desenhar: primeiro presente de Cláudiapara Gullar, que voltou de presente para ela anosdepois como objeto de arte, e com a dedicatória que dánome ao projeto editorial.
E o presente retorna – para Ferreira Gullar 90 anos.O caderno fac-similado e impresso em Fine Art no mesmopapel (Canson C à grain) do original, vem acompanhadode texto em prosa, da poeta, curadora e críticade arte Cláudia Ahimsa, numa edição especial comencadernação japonesa. E ainda algumas surpresas quea viúva dispôs de seu acervo. A curadoria intimistanos abre algo da história de amor vivida pelos doispoetas.
– Subverti a ordem – diz Cláudia. – Os desenhos contama história e as memórias são ilustrações.
O material inédito vem envolto por um estojoproduzido na Suécia, na antiga tradição artesanalde encadernação e tipografia da Bookbinding Design,com tiragem de 90 exemplares de 3 séries, numerados eassinados.
A edição foi produzida em Lisboa pela Urucum Editora.
Ferreira Gullar e a poetisa Cláudia Ahimsa tiveramanos de convivência trocando impressões, produzindopensamentos e imagens para um futuro livro a partirde Mondrian. Certo dia, Gullar presenteia Cláudiacom 10 colagens incrivelmente belas:
a série Pós-Mondrian.
Estas peças originais participaram de umafotoinstalação de Cláudia na exposição sobre a obrado poeta-artista no BNDES do Rio de Janeiro em 2016,a partir de uma fotografia de Tomás Rangel.
Os editores da UQ!, Lucia Bertazzo e Leonel Kazcomeçaram a sonhar em editar estas peças. Gullarachou ótima a ideia, que passados 5 anos, agorase concretiza.
As 10 colagens são reprodução com toda a precisão pelaeditora Urucum, de Lisboa em tiragem de 90 exemplares.
Os detalhes dos recortes manuais são fielmentereproduzidas por laser. Este trabalho minuciosoé acondicionado em 3 leporelos expositivos (álbunssanfonados), que vêm dentro de um estojo artesanalúnico em cada exemplar.
Curadoria e texto de Cláudia Ahimsa.

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